segunda-feira, 30 de março de 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

O segredo de "Tcheniffer"

Flashdance (1983)
Diretor: Adrian Lyne
Sempre que penso em Flashdance (1983) não tem jeito, minha primeira reação é cantar: “_Glória Pires, Pires, Pire-es...”. Os mais pancados vão entender que eu estou me referindo a “What a feeling”, afinal quem nunca criou um virundum para essa famosa canção de Irene Cara (Oscar-winning theme, by the way)?

Mas Flash não me enganou por aí. Flash me enganou e me encheu de ilusões com estratégias cafajestemente pensadas para tal. Em primeiro lugar, esse filme foi lançado quando eu tinha um ano de idade. Assim, Jennifer Beals só começou a fazer parte do meu mundo pelo menos uns cinco anos depois. O que teve de menina entrando na aula de Jazz não tá escrito. Eu mesma tive vários pares de polainas e arrisquei meus saltinhos.
"Tcheniffer” com suas madeixas escuras, bem ao estilo 80's big hair, que assolou o período, de dia é João e de noite é Maria. Ou seja, durante o dia, a moça se estropia como soldadora em uma fábrica e quando a noite cai, ela pode mostrar seu verdadeiro talento como dançarina.
Isso me remete a duas coisas:
1) Se você quer “brilhar” em alguma profissão de destaque, antes pense em arrumar um emprego como operário durante o dia. Porque, né? Conhecemos outros casos em que isso “deu certo”, inclusive com a mesma quantidade de cabelo.
2) Dançarinas exóticas e presidentes realmente têm tudo a ver, mas isso é assunto para uma outra conversa.
Dançando para não dançar, “Tcheniffer” tem uma vida digna de diva de musical oscarizado. É um diamante bruto, com potencial, mas sem nenhum tato. E, aliás, a falta de tato deveria ser encarada com mais positividade pelas pessoas. Afinal, nada como sermos nós mesmos, né?“Tcheniffer” tem seu final feliz, claro. Final esse que já havia se concretizado antes com a musa inspiradora do filme, Maureen Marder, uma soldadora que virou dançarina. A parte do strip clube rendeu de uma viagem para Toronto e uma saidinha para conhecer a night de lá.
Mas na vida real, Flash quase que não sai. Ninguém acreditava que faria sucesso, nem a Paramount Pictures. Durante muito tempo ele ficou que nem batata quente pulando de diretor em diretor - e não foi qualquer diretorzinho meia boca não. Não fosse o Brian De Palma fazer a caridade de recusar o emprego, não teríamos Scarface (1983).

Foi o tipo da história que começou toda errada, continuou toda errada, mas no final deu tudo certo. Vide blusinha trendy que a “Tcheniffer” usa e virou parte do figurino por acidente, logo após a gola ter encolhido em uma lavagem. Aí, já viu né? Dá uma tesourada aqui, outra ali, põe uma micro-saia e pronto: tá gata.
Por fim, chega o momento que todos aguardavam. Por que Flash me enganou?Simples: porque “Tcheniffer” não é Marine Jahan, nem Sharon Shapiro e MUI-TO ME-NOS Crazy Legs. Caro leitor, vamos voltar às ceninhas de dança, ok? Lembra aquela em que as luzes ficam piscando e a “Tcheniffer” (Fake) Beals aparece com a cara pintada de branco? Observe atentamente: aquela ali pode ser a irmã de “Tcheniffer” (Fake) Beals, pode, ainda, ser a colega de quarto de “Tcheniffer” (Fake) Beals, poderia mesmo eu ter acreditado que aquela é na verdade o pai biológico de “Tcheniffer” (Fake) Beals... Mas, senhores, francamente, ninguém em sã consciência acreditaria - principalmente depois de todas as maravilhas tecnológicas que testemunhamos na indústria cinematográfica pós anos 90 -, que aquela é “Tcheniffer” Beals. Isso, hoje. Mas, naquele tempo eu me deixei levar e acreditei piamente que aquela moça dançava de verdade.
Entretanto, ela tinha três dubles: um para as cenas de dança (a bailarina Marine Jahan), um para as cenas de salto (a ginasta Sharon Shapiro) e um para o break-dancing (o dançarino Crazy Legs – isso mesmo, homem com H). E daí? Bem, e daí que até os produtores esconderam isso da imprensa por um tempo, com medo de que o filme fosse pro brejo. Afinal tudo gira em torno da dança, toda a ilusão de superação e perseverança está ali. E mesmo sabendo que a “Tcheniffer” não tem a obrigação de saber fazer sequer um "Plié, tendu", a gente fica magoado.
Duvidou? Faça o seguinte: pegue o filme de novo (qualquer ilha das Lojas Americanas tem o DVD, e se bobear, por R$9,99) e preste atenção na cena do teste. Enquanto “Tcheniffer” está “causando” de repente o cabelo diminui! A força na peruca não foi suficiente e com aquela empolgação toda, voou. Ainda duvidando? Então quem poderia ser?
Caro leitor, escolha abaixo os possíveis dublês para “Tcheniffer” Beals:







a) Sidney Magal








b) Paul Stanley






c) Yanni








d) Brian May






e) Jennifer Beals

Mas a cena (e música) que eu mais adoro é a da patinação no gelo. Aquela, em que a amiga da “Tcheniffer”, a Jeanie Szabo passa a vida treinando e depois cai. Eu sempre, SEMPRE fico com pena, mas “Gloria” é sem dúvida a melhor música do filme, em minha opinião. Melhor até que “Maniac” do Michael Sembello e obviamente melhor que a trilha sonora das camas redondas, “Leire, leire, leire, leireeee”, ou "Lady, Lady, Lady" de Joe Esposito. Depois disso, ninguém viu a Jeanie Szabo (Sunny Suzanne Johnson) em outros filmes. A atriz faleceu um ano depois, por conta de um aneurisma.
Mas acho mesmo que “Tcheniffer” estava a pé de namorado. Guardadas as devidas proporções – já que nos anos 80 todo mundo deu uma embagulhada – o Michael Nouri está mais para galão do que para galã. E olha que ele devia ter alguma coisa, porque disputou o papel com o Kevin Costner. Outro cotado para interpretar Nick Hurley, foi o “demon” do Kiss, Gene Simmons, mas ele ficou com medo de abalar sua imagem. Já Paul Stanley...

terça-feira, 24 de março de 2009

Cuidado com a Cuca

A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project – 1999)
Diretores: Eduardo Sánchez e Daniel Myrick

Uma década depois... ele ainda me engana. Aliás, esse deveria ter sido o primeiro post do blog, porque é impossível falar de A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project – 1999) sem mencionar o tanto de gente que esse filme enganou. Vide faturamento: 22 mil dólares para fazer, que geraram espantosos 240 milhões. E tudo começou com os diretores-roteiristas, Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, com duas câmeras na mão, pouco dinheiro no bolso, três atores semi-desconhecidos e muitas mentirinhas na cachola. Essa dupla intrépida era tão enganadora que começou enganando os próprios “três atores semi-desconhecidos” dando a eles apenas um resumo do “mito” por trás do filme e jurando de pé junto que era tudo verdade. Piores que marido traído, os “três atores semi-desconhecidos” foram saber que nunca houve lenda alguma só depois que o filme foi lançado.


E esse povo sofreu. Corre à boca pequena que para promover a discórdia entre os eles, os diretores davam-lhes menos comida a cada dia de filmagem. Gente faminta = péssimo humor. Inventaram, ainda, de sair correndo pela mata quebrando gravetos e até aquela cena da barraquinha quase sendo carregada foi surpresa para os “três atores semi-desconhecidos”. Agora, imaginem vocês: estamos “gravando” no meio do mato, famintos, mal-humorados, cansados, sem saber qual será a próxima cena, acreditando que existiu uma mulher que matava criancinhas naquele pedaço e de repente um monte de loucos começa a sacudir a barraca e imitar choro de crianças, deixar pedrinhas na porta, pendurar gravetos e tudo mais. Detalhe: isso no maior breu. Qual a sua reação?

a) Choro e fico melequento;
b) Só não cago porque não tenho “feze” pronta;
c) Saio da barraca p* da vida xingando até a quinta geração do moleque que está “atrapalhando” as filmagens, afinal, como diria Christian Bale: “Are you professional or not?”;
d) Utilizo a palavra "fuck" 154 vezes;

Logo depois trataram de espalhar que as filmagens eram reais, e muita gente ainda se confunde (vide: eu) sobre a veracidade das cenas, exatamente pelo fato do filme se apoiar em uma estética de documentário. Aliás, quando vi o filme em 1999 ele veio na rabeira de uma campanha publicitária poderosa, principalmente para quem tinha internet e podia acessar o site do The Blair Witch Project. Antes de ser lançado, os “três atores semi-desconhecidos” foram listados como "desaparecidos, presumivelmente mortos" no IMDb. No mais tudo foi feito na base do “fundo de quintal”, tipo a casa da atriz melequenta que é na verdade a casa de um produtor assistente – o qual também faz uns bicos de câmera. A garçonete entrevistada, que é interpretada por Sandra Sánchez, a irmã do diretor Eduardo Sánchez e por aí vai. Vai ver que as marquinhas de mão nas paredes da cabana foram feitas pelos filhos do diretor em um descontraído “family time” com o tema “pintura com os dedos para filme de terror do papai”. Sem cachê, claro.

Fato é, em 2004, uma tia com quem eu morava resolveu comprar o filme e eu resolvi ver de novo, de tarde, para não dar muito medo. OK, vi tudinho. Não contente com isso, vamos aos extras: entrevistas, fotos dos “três atores semi-desconhecidos” quando crianças, no maior estilo “Cold case”. Ainda me inventam de colocar umas informações sobre bruxas e até hoje eu não sei se eu imaginei uma mulher toda coberta de pelos como o filme descreve ou se vi a bicha na vera lá nos extras. Resultado: uma pessoa três noites dormindo com a luz do quarto acesa e nas duas primeiras na cama da tia, com a tia. Acho que tive mais medo do que lá em 1999, quando eu ouvia falar de Blair como sendo o mais assustador desde “O Exorcista” – filme este que não vi e se Deus me permitir, passarei desta para uma melhor sem tomar conhecimento.

Blair, além de me tirar o sono, me irritou porque me deixou a mercê da minha imaginação fértil. Não vi bruxa, não vi criança, não vi caçadores esquartejados, muito menos os cadáveres dos “três atores semi-desconhecidos”. Eu imaginei tudo isso de madrugada, com a mão no bolso, (na ruuuuaaaa...) o que é muito pior. O máximo que mostraram foi um saco com uns cabelos dentro e algo que sugeriam ser uma língua, dentes e vísceras de um dos “três atores semi-desconhecidos”. É aquela velha história do vampiro no quarto escuro que, quando você levanta e vai conferir, não passa de uma camisa que alguém deixou pendurada na cadeira.

Meu diálogo favorito é sem dúvida:

Heather Donahue: How's east?
Michael Williams: East?
Heather Donahue: Yeah, we've been going south all this time. How's east?
Michael Williams: Wicked Witch of the West, Wicked Witch of the East. Which one was bad? Heather Donahue: Wicked Witch of the West was the bad one. Michael Williams: Then we should go east.


Muito mais pelo Mágico de Oz do que pela Blair, claro.
Justiça seja feita The Blair Witch Project abriu alas para um monte de gente fazer a mesma coisa com mais dinheiro no bolso. Vide Cloverfield, Rec, Quarentine (versão chupadíssima do Rec), Diary of the Dead, entre outros.

Mas a cena que fez todo mundo ir embora sem entender nada, ou p**, ou ainda se achando a última cocada da baiana por ter captado o espírito da película, é a cena final. Tá lá mais um corpo estendido na parede de “mão no muro”. E, aí? E aí nada, né? E aí, cabô. Em oito dias foi feito um filme independente que faturou tubos. Seu recorde de arrecadação só foi superado em 2002, por Casamento Grego (My Big Fat Greek Wedding). Mas se querem saber sugiro aqui um final alternativo que teria dado o que falar. E se em vez da bruxa cabeluda, em vez do sujeito “mão no muro”, em vez de câmera caindo e melequenta gritando que nem porco no matadouro, a cena cortasse para ela: a fonte de inspiração do penteado e da maquiagem de Amy Winehouse, a rainha da Sessão da Tarde, uma bruxa que tem peito pra aparecer? Eu acho que sinceramente seriam outros 500. Milhões de dólares, claro.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Morcegos e lagartos

Os Garotos Perdidos - The Lost Boys (1987)
Diretor: Joel Schumacher

Vamos diretíssimo ao assunto: The Lost Boys me enganou porque Jason Patric não é Jim Morrison. Calma, eu não descobri a pólvora. Mas tente explicar para uma menina do interior que o sujeito que aparece no pôster da caverna dos vampiros é uma lenda do rock e não aquele sujeito igualmente cabeludo que faz o papel do mocinho no filme. Ora, minha gente, acho que a intenção do povo era, no mínimo, aludir à semelhança entre os dois “vampiros” – Morrison e Patric. Reparem no trailer do filme a seguir, bem aos 0:55 / 4:55:



As imagens aparecem, inclusive, sobrepostas. Enganação escancarada MESMO. Mas também, quem não gostou desse filme, né gente? Eu com 8 anos na época, devia estar me dedicando a fontes mais “infantis” de entretenimento e no entanto me rendi. Papai também foi cúmplice. Alugou a película, oras. E como diria o candidato a padrasto dos meninos no filme “Don't ever invite a vampire into your house, you silly boy. It renders you powerless.”

Mas Garotos me enganou por outros motivos. Lembram do sujeito que aparece tocando saxofone no início, com uma calça coladinha e todo brilhante de “suor”, rebolando mais do que a Globeleza? Eu achei que o cara estava tocando um metal mesmo, pra capeta nenhum botar defeito. Eu olhava aquilo e pensava “Chic, estou vendo um filme de rock”. Tudo bem, aí a culpa também é do papai que só ouvia boleros, tangos e tchatchatchas. E a gente vai crescendo e gostando.

O elenco tem outras figuras inesquecíveis (que caíram no ostracismo), tipo o Corey Haim, que eu não sei vocês, mas para mim sempre será o garoto de Sem Licença para Dirigir (License to Drive - 1988), que queria pegar a personagem da Heather Graham (Mercedes Lane) no filme e destruía um Cadillac azul em nome desse propósito. No mesmo filme – e eis aí outro fato interessante – está também Corey Feldman. O Edgar Frog de Garotos, o Bocão de Os Goonies e o cara que ficou conhecido como primeiro namorado da Drew Barrymore. Outra enganação: eu achava que todos eram “monstros do cinema internacional”. Tipos, a seção da tarde pintava os caras assim, uai. Eles e o Macaulay Culkin que até hoje “apronta muitas confusões” todo fim de ano na temperatura máxima (cu-ruz).

Quem me parece estar melhor é o Kiefer Sutherland, no filme e atualmente. Envelheceu bem, ganha rios de dinheiro e é o Jack Bauer, né minha gente? Nem precisava mais nada. Mas, ainda assim, é filho do pai dele, o que já seria suficiente para me fazer reverenciá-lo Ad Eternum pelo dom de nascer bem.

Por fim, não posso deixar de comentar que, Jason Patric, além de se passar por Jim Morrison, tentou me enganar fingindo ter cabelo! E aquelas franjas super bufantes e cacheadas dos anos 80 também davam o toque. As entradas ficaram escondidinhas, heim, Patric? Pois bem, se eu pudesse ter estado lá naquele momento eu daria a real: “_Jason, my dear, você é um luxo de lindo. Mas, ASSIM que o filme acabar, bora comprar um Kit Shampoo + Tônico + Condicionador Hair Sink ou mesmo uma Loção do Senhor Vicentino de Moeda, meu filho. Trust me, antes da continuação de Velocidade Máxima (1997) você já será um homem com a famigerada pracinha na cabeça”. Mas como isso não foi possível, só me resta dizer Cry little sister (thou shall not fall...).