Diretor: Adrian Lyne
Sempre que penso em Flashdance (1983) não tem jeito, minha primeira reação é cantar: “_Glória Pires, Pires, Pire-es...”. Os mais pancados vão entender que eu estou me referindo a “What a feeling”, afinal quem nunca criou um virundum para essa famosa canção de Irene Cara (Oscar-winning theme, by the way)?

Mas Flash não me enganou por aí. Flash me enganou e me encheu de ilusões com estratégias cafajestemente pensadas para tal. Em primeiro lugar, esse filme foi lançado quando eu tinha um ano de idade. Assim, Jennifer Beals só começou a fazer parte do meu mundo pelo menos uns cinco anos depois. O que teve de menina entrando na aula de Jazz não tá escrito. Eu mesma tive vários pares de polainas e arrisquei meus saltinhos.
"Tcheniffer” com suas madeixas escuras, bem ao estilo 80's big hair, que assolou o período, de dia é João e de noite é Maria. Ou seja, durante o dia, a moça se estropia como soldadora em uma fábrica e quando a noite cai, ela pode mostrar seu verdadeiro talento como dançarina.
Isso me remete a duas coisas:
1) Se você quer “brilhar” em alguma profissão de destaque, antes pense em arrumar um emprego como operário durante o dia. Porque, né? Conhecemos outros casos em que isso “deu certo”, inclusive com a mesma quantidade de cabelo.
2) Dançarinas exóticas e presidentes realmente têm tudo a ver, mas isso é assunto para uma outra conversa.
Dançando para não dançar, “Tcheniffer” tem uma vida digna de diva de musical oscarizado. É um diamante bruto, com potencial, mas sem nenhum tato. E, aliás, a falta de tato deveria ser encarada com mais positividade pelas pessoas. Afinal, nada como sermos nós mesmos, né?“Tcheniffer” tem seu final feliz, claro. Final esse que já havia se concretizado antes com a musa inspiradora do filme, Maureen Marder, uma soldadora que virou dançarina. A parte do strip clube rendeu de uma viagem para Toronto e uma saidinha para conhecer a night de lá.
Mas na vida real, Flash quase que não sai. Ninguém acreditava que faria sucesso, nem a Paramount Pictures. Durante muito tempo ele ficou que nem batata quente pulando de diretor em diretor - e não foi qualquer diretorzinho meia boca não. Não fosse o Brian De Palma fazer a caridade de recusar o emprego, não teríamos Scarface (1983).
Foi o tipo da história que começou toda errada, continuou toda errada, mas no final deu tudo certo. Vide blusinha trendy que a “Tcheniffer” usa e virou parte do figurino por acidente, logo após a gola ter encolhido em uma lavagem. Aí, já viu né? Dá uma tesourada aqui, outra ali, põe uma micro-saia e pronto: tá gata.

Por fim, chega o momento que todos aguardavam. Por que Flash me enganou?Simples: porque “Tcheniffer” não é Marine Jahan, nem Sharon Shapiro e MUI-TO ME-NOS Crazy Legs. Caro leitor, vamos voltar às ceninhas de dança, ok? Lembra aquela em que as luzes ficam piscando e a “Tcheniffer” (Fake) Beals aparece com a cara pintada de branco? Observe atentamente: aquela ali pode ser a irmã de “Tcheniffer” (Fake) Beals, pode, ainda, ser a colega de quarto de “Tcheniffer” (Fake) Beals, poderia mesmo eu ter acreditado que aquela é na verdade o pai biológico de “Tcheniffer” (Fake) Beals... Mas, senhores, francamente, ninguém em sã consciência acreditaria - principalmente depois de todas as maravilhas tecnológicas que testemunhamos na indústria cinematográfica pós anos 90 -, que aquela é “Tcheniffer” Beals. Isso, hoje. Mas, naquele tempo eu me deixei levar e acreditei piamente que aquela moça dançava de verdade.
Entretanto, ela tinha três dubles: um para as cenas de dança (a bailarina Marine Jahan), um para as cenas de salto (a ginasta Sharon Shapiro) e um para o break-dancing (o dançarino Crazy Legs – isso mesmo, homem com H). E daí? Bem, e daí que até os produtores esconderam isso da imprensa por um tempo, com medo de que o filme fosse pro brejo. Afinal tudo gira em torno da dança, toda a ilusão de superação e perseverança está ali. E mesmo sabendo que a “Tcheniffer” não tem a obrigação de saber fazer sequer um "Plié, tendu", a gente fica magoado.
Duvidou? Faça o seguinte: pegue o filme de novo (qualquer ilha das Lojas Americanas tem o DVD, e se bobear, por R$9,99) e preste atenção na cena do teste. Enquanto “Tcheniffer” está “causando” de repente o cabelo diminui! A força na peruca não foi suficiente e com aquela empolgação toda, voou. Ainda duvidando? Então quem poderia ser?
Caro leitor, escolha abaixo os possíveis dublês para “Tcheniffer” Beals:
a) Sidney Magal
b) Paul Stanley
c) Yanni
d) Brian May

e) Jennifer Beals
Mas a cena (e música) que eu mais adoro é a da patinação no gelo. Aquela, em que a amiga da “Tcheniffer”, a Jeanie Szabo passa a vida treinando e depois cai. Eu sempre, SEMPRE fico com pena, mas “Gloria” é sem dúvida a melhor música do filme, em minha opinião. Melhor até que “Maniac” do Michael Sembello e obviamente melhor que a trilha sonora das camas redondas, “Leire, leire, leire, leireeee”, ou "Lady, Lady, Lady" de Joe Esposito. Depois disso, ninguém viu a Jeanie Szabo (Sunny Suzanne Johnson) em outros filmes. A atriz faleceu um ano depois, por conta de um aneurisma.
Mas acho mesmo que “Tcheniffer” estava a pé de namorado. Guardadas as devidas proporções – já que nos anos 80 todo mundo deu uma embagulhada – o Michael Nouri está mais para galão do que para galã. E olha que ele devia ter alguma coisa, porque disputou o papel com o Kevin Costner. Outro cotado para interpretar Nick Hurley, foi o “demon” do Kiss, Gene Simmons, mas ele ficou com medo de abalar sua imagem. Já Paul Stanley...
O cinema me enganou? que bobagem..Adrian Line disse: Não era necessário que Jennifer Beals fosse uma bailarina...até mesmo porque, Cinthia Rodes figurante era a melhos do seu País na sua categoria e mesmo assim não foi escolhida como atriz principal...alguem aqui fica decepcionado ao saber que ninguem salta de um prédio de verdade, passados 25 anos o filme ainda serve de referencia pra muitos filmes.
ResponderExcluirJennifer Beals tinha a disposição 4 dubles
uma dançarina para os passos de Le Pliè e Jazz, uma ginasta para o salto mortal Sheron Spiro e um dançarino de break-dance Wayne "Frosty Freeze, os passoas de dança foram executados pela dançarina Marine Jahan e ninguem mais e demais para Stunt..ainda bem que não uma pessoa qualquer.
Querido Anônimo, realmente não era necessário que fosse ela a dançarina. Isso não tem nada a ver com "necessidade". Tem a ver com o encanto, com a beleza da ilusão que existia na minha mente e na mente de milhares de outras garotinhas. Não estou aqui discutindo as aptidões de ninguém e sim narrando um fato que aconteceu comigo na infância e que quando descobri a verdade foi tipo "oooooh". Adoro a Beals, ela tb ficou uma lésbica ótima em The L World, não acha? Será que dessa vez foi ela ou alguém "dançou" no lugar dela tb? ;) Beijos e escreva sempre!
ResponderExcluir